por
Celso Ribeiro - procrescer@uai.com.br
Tenho
medo da morte, do
último suspiro sem mote,
a me levar sem rumo, sem norte,
a despedir sempre cedo da festa
da vida, um brinquedo.
Tenho
medo do olhar do outro
me vigiando, tudo esconjurando,
em busca do erro, sempre me
lembrando do que falta em
mim, apontando, soletrando.
Tenho
medo de pensamento desvairado,
galopante, em noite de insônia, tomando
conta de tudo, todos, fazendo emergir
o sujo do vasto mundo, perigoso
em cada esquina, em cada encontro,
em cada possível pessoa do mal,
a espreitar, a me roubar o sossego.
Tenho medo do medo
paralisante tal qual veneno sedutor
do olhar da Jibóia pra vítima
inerte, em espera da entrega, retesando
em demasia meus músculos, abrindo
por demais meus olhos, esfriando
por demais meus intestinos, broxando
meu sexo, alardeando,
descarregando os nervos em luta
pavorosa: ficar ou fugir, sem rumo,
em correria esbaforida.
Tenho
medo do medo que faz
do sujeito um trapo atrapalhado
em inútil fuga movediça,
mais se mexendo, mais se afundando,
mais imóvel permanecendo.
Temo por
demais é o demo que
se disfarça em medo para fugir da
dança da vida que nos convida
para ser mais, e mais, e mais,
sem medo.
Quero
comigo, estranho!,
sempre um tipo de medo:
o medo que arrume rápido
meu corpo para sair em trote,
viver alhures, longe do perigo
de morte, em alegre cavalgada
em busca de abrigo, de um olhar
amigo, um abraço inebriante,
descansante da loucura dos dias.
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