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Enrisado - o sem riso empossado 

por Celso Ribeiro - procrescer@uai.com.br

O sem riso anda na moda,
muito valorizado, desfila solto
na passarela dos rostos
ajuizados, virou modelo muito
procurado pelos bem apessoados.
Tornou-se objeto de desejo de gente
responsável, moeda forte na
economia de mercado onde rir
virou pecado, duramente
castigado. Ai do ousado!

Quem quiser ensinar, ser copiado,
do sem riso sempre deve ser
acompanhado, pois o já sabido
ali sempre será bem guardado, com
muito custo pelo aprendiz será
alcançado. Que a partir daí também
do sem riso será um mestre procurado,
caminho sem volta para os que desejam
fazer do sem riso doutorado.

O sem riso, nas defesas de teses
exigido, juntou-se ao saber sabido
compondo um não dito que para
ser sábio tem que ser sem riso,
quase um pré-requisito, passaporte
para o seleto clube dos eruditos.

Nas Igrejas, em rostos compenetrados,
o sem riso impõe-se aos fiéis culpados,
desde o padre, coroinhas, beatos silenciados,
pedindo perdão a Deus, O Triste, sem riso
representado, decerto sempre lendo no Grande
Livro registrado, pecados cometidos ou
imaginados.

O sem riso infiltra o rosto em
lágrimas, sofrido, do enfermo, de
mal acometido, desfalecido no leito,
emagrecido, sem esperanças de
olhar-se no espelho, algum dia
rejuvenescido.


Do competente médico tão procurado
espera-se o sem riso emoldurado quanto
mais raro o diagnóstico anunciado, até
então ignorado, desconfiado.
O pobre enfermo, desesperançado,
deseja ser curado pelo doutor
mais sério, ensimesmado. Daquele
de riso fácil, demonstrado,
por certo não será completamente
bem tratado, talvez jamais de seu
mal sanado.

O sem riso está no conselho
esperado do muito vivido ao
aturdido recém chegado,
certamente necessitado
de ser precavido contra os perigos
do novo, desconhecido, prostituído
por fáceis risos, perdido.

O sem riso toma conta
da face louca do assassino
ao desferir gesto mortal,
ensandecido, sobre o outro,
já sem riso possuído, em queda,
gravemente ferido.
Estampa-se, glorioso,
na face dos Chefes de Estado
sequiosos por conflitos anunciados,
não importando se há choro doído
no inimigo humilhado,
vencido, dobrado, acabado,
moído.

Estranho esse sem riso.
Não é que está também
escondido no manequim
semidespido, exposto na
vitrine, com um riso
plástico, sem sentido, a seduzir
os que por ali passam corridos?

O sem riso teima em estar, mesmo
que só por instantes seguidos, no
rostinho em lágrimas, perdido,
do menino em choro, abandonado,
em birra no chão deixado,
incompreendido, por pais sem
risos, carrascos, aborrecidos.

Vê-se também em seu
típico estilo o sem riso mocho,
encardido na pele enrugada do velho,
ao sol deixado, no asilo, abandonado,
à espera da morte, com aviso prévio
Já batido, da vida despedido.

O sem riso já é de há muito
do mineiro conhecido. Cabreiro,
esgueirado, desconfiado, vivido,
só de olhar fica do outro já sabido,
das quintas intenções
matutadas, remoídas, de prontidão
com o fubá de volta
quando a espiga das idéias
ainda nem é nascida.

O sem riso, por fim,

Deus me livre do
acontecido, está pra
sempre esculpido
na cara de quem um dia
já foi vivo, hoje imóvel,
tarde arrependido,
inerte no ataúde
adormecido, com
um troféu mudo,
conquistado, para o
eterno sem riso
ser levado.

 

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Celso Ribeiro

 

 

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