por
Celso Ribeiro - procrescer@uai.com.br
Repente
vem o não entendido das coisas
misturadas,
sem pedir licença, sem lógica,
sem
escrúpulos, sem pudor, sem escapes,
fugas
do sem face moendo tudo, medo.
Escuro
pavoroso da morte a se anunciar
ao
indefeso que corre sem sair do lugar,
rumo algum.
Gritos,
silêncio inundando tudo, todos.
Mutável
cenário torto: esgotos, casas,
becos
fétidos, lodosos, escorregadios,
ruas
sem nomes, sem números, sem
gente.
Animais de focinhos humanos,
figuras
do demo a debochar: goelas
sufocantes.
Queda, abismo.
Inaudíveis
pedidos de socorro
derredor,
algum piedoso que soubesse
sacudir,
acordar, trazer à tona,
desafogar
de tantos sofrimentos,
dizer
que é somente um sonho
ruim
de um dia ruim de tantos
dissabores,
cansaço, perdas.
Tentativa
vã, levantar-se, desfazer
amarras
que aprisionam ao leito,
força
imensa, inútil, paralisante,
saltos,
berros, correria solta,
desvairada
pela noite afora,
desatino,
qual fantasma a espantar
os
que dormiam, possuído.
Ensangüentados
entes queridos,
imprudentes
acidentes, desvairada
ida,
pressa para lugar sem fim,
agonia,
filho pedindo socorro,
impotente
pai angustiado, atrasado,
embalde
lutando contra inimigo feroz,
surgido
do nada, galopante, terrível...
Repente
acordado, aliviado, em vão
busca
a mão amante de outrora. Doce
ilusão,
fora embora. Pesadelo maior,
doído,
permanente, perdido, sutilmente
tecido,
tal qual pegajosa teia invisível
atraindo
incauto inseto distraído, sem
pressa,
sem perdão. Solidão, noite fria.
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