por
Celso Ribeiro - procrescer@uai.com.br
Deveria
existir o dia do consumidor,
Quando,
lógica invertida, cada
Um
receberia dos vendedores
Um
presente pelo seu dia.
Do
padeiro vizinho receberia
De
volta seu melhor sono roubado
De
manhãzinha, além do pão,
Do
forno de seu ofício.
Do
frentista o tanque cheio
Por
recompensa de todos os
Dias
anteriores quando preenchera
Pensativo
volátil saldo evaporado.
Das
operadoras de celulares
Mensagem avisando gratuitas
Ligações
para seus amores
Longínquos
adormecidos.
Do
médico consulta de cortesia
Anunciando
que seu coração
Enfim
baterá por muitos anos
Em
busca de velhos sonhos.
Da
cobiçada loja chique
O
último modelo da roupa
Tão
desejada para aquela
Festa
tão planejada.
Do
supermercado carrinho
Cheio
de enlatados caros,
Peixes
com ômega três,
Dessas
coisas todas da vez.
Das
casas de materiais
De
construção, enfim, todos!
Os
tijolos, e telhas, e argamassas,
E,
nem tanto!, pera aí, finos acabamentos.
Dia
do consumidor, tudo para.
Abafar
qualquer dor, tudo para?
Tudo
ter, todos os gostos, todos os dias,
Consumir
todas as incômodas angustias do ser.
Ai
de mim! Como não ter
A
pungente culpa de nada
Comprar
para minha mãe,
Estar
com ela somente?!
Como
enfrentar olhos irmãos,
De
presente em punho, sorridentes,
Ternos,
muitos de muitos dias
Ausentes,
enfim presentes!?,
E
dizer-lhes... Dizer-lhes nada,
Absorto
apenas. De corpo
E
alma presente. Desvinculado,
Mas
impotente, em luta com esse
Desejo
premente, de comprar algo,
Dar
logo um presente, ser filho
Desse
frenesi ardente, de consumir,
Ser
como toda gente, feliz, contente.
Sou
filho de quem, afinal,
Dessa
cultura de boi ao corte,
Viseira
eficiente, de só comprar,
Bucho
cheio, alegremente?
Ou
um ser nascente, cuja mãe quer
Ver
seu filho finalmente, sentir-se
Livre
para dar-lhe um abraço envolvente,
Surgido
da vida, docemente?
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