A imigração alemã
no Brasil
"A Colônia de Leopoldina, na Bahia, foi o
primeiro núcleo colonial fundado com imigrantes
alemães no Brasil, em 1818. A partir desta data,
imigrantes alemães entraram em vários
Estados brasileiros (Minas Gerais, Espírito Santo,
Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná), embora
sua maior concentração tenha sido nos
dois Estados meridionais do país: Rio Grande
do Sul e Santa Catarina. Sob o rótulo de "colonos
alemães", englobamos todos os imigrantes
de língua alemã, sejam eles provenientes
da Alemanha, Áustria ou Polônia. Como área
de "colonização alemã"
consideramos aquelas regiões do sul do Brasil
povoadas predominantemente com imigrantes de origem
alemã, embora tenham recebido também colonos
de outras origens, inclusive luso-brasileiros.
Os imigrantes alemães, que entraram nas Províncias
de Santa Catarina e Rio Grande do Sul durante o século
XIX, se localizaram nas áreas de florestas, entre
o litoral e o planalto, longe das regiões de
grandes propriedades luso-brasileiras empenhadas na
criação de gado. Estes imigrantes, portanto,
ficaram separados dos luso-brasileiros e suas atividades
não afetaram em nada as áreas latifundiárias.
As regiões colonizadas por alemães se
caracterizaram principalmente pelo regime de pequenas
propriedades policultoras e pelo fato de permanecerem
relativamente isoladas, gozando de uma certa autonomia
e realizando um comércio em pequena escala, não
especializado, dominado por alguns comerciantes proprietários
de pequenas lojas nos principais centros coloniais.
Nas duas Províncias citadas, a colonização
alemã — no século XIX — acompanhou
os vales dos principais rios, desde o curso inferior
até quase as nascentes, já no planalto:
trata-se dos vales dos rios Itajaí (Santa Catarina)
e Sinos, Jacuí, Taquari e Caí (Rio Grande
do Sul).
A imigração alemã para o Rio
Grande do Sul começou em 1824, com a fundação
da Colônia de São Leopoldo, no vale do
rio dos Sinos. Esta imigração sofreu uma
interrupção com a Revolução
Farroupilha e se reiniciou muito mais tarde, na década
de 1850, quando foi instalada a Colônia de Santa
Cruz (1849) e toda uma série de colônias
privadas. Em Santa Catarina, os primeiros alemães
chegaram em 1828 e foram instalados na Colônia
de São Pedro de Alcântara, não muito
distante da capital, na estrada que se abria para Lajes.
Só duas décadas depois é que começou
o grande fluxo de imigrantes alemães para este
Estado, com a colonização do vale médio
do rio Itajaí e das terras a noroeste do Estado,
próximas ao porto de São Francisco do
Sul que compunham o dote da Princesa D. Francisca, casada
com o Príncipe de Joinville. Da iniciativa privada
de Hermann Blumenau, surgiu a Colônia Blumenau,
no médio Itajaí-Açu (1850); em
seguida, foram fundadas as Colônias de D. Francisca
(1851), Itajaí-Brusque (1860) e Ibirama (1899),
a primeira nas terras da Princesa D. Francisca, a segunda
no médio Itajaí-Mirim e a terceira no
alto Itajaí-Açu [1].
A fundação de colônias com imigrantes
alemães no Rio Grande do Sul e Santa Catarina
se deve tanto à iniciativa privada como à
iniciativa governamental (seja do Governo Imperial ou
Provincial). Entre as colônias fundadas por iniciativa
governamental estão São Leopoldo, Três
Forquilhas e Ijuí, no Rio Grande do Sul, e Itajaí-Brusque,
em Santa Catarina. Blumenau (depois transformada em
colônia oficial a pedido do seu fundador), D.
Francisca (instalada pela Hamburger Kolonisationsverein)
e Ibirama (instalada pela Hanseatische Kolonisationsgesselschaft)
são exemplos de iniciativa privada na área
da colonização. As sociedades de colonização
tinham interesse principalmente na venda das terras
a longo prazo, que dava um lucro razoável, acrescentando-se
ainda o financiamento da passagem dos imigrantes e os
empréstimos iniciais para permitir a instalação
dos mesmos nos lotes. Iniciativa individual e idealista
como a do Dr. Blumenau é uma exceção
à regra e teria fracassado se não fossem
os esforços do mesmo para transformá-la
em colônia oficial. Ao Governo Imperial interessava
povoar uma área de florestas com pequenos proprietários
agricultores e os esforços de colonização
se concentraram nas duas províncias meridionais
em virtude da pressão dos grandes proprietários
de café quanto à concessão de terras
a estrangeiros em São Paulo. Sendo o café
uma das principais fontes de divisas para o país,
argumentava-se no Senado que pequenas propriedades,
policultoras ou não, encravadas nas áreas
cafeeiras seriam extremamente prejudiciais. Mas havia
uma razão bem mais importante para concentrar
grandes contingentes imigratórios entre o planalto
e o litoral do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. É
evidente que não foram os imigrantes que deliberadamente
escolheram essas regiões de floresta para colonizar.
Havia uma razão estratégica para que o
Governo Imperial destinasse essas áreas a colonização:
era preciso abrir vias de comunicação
entre o litoral e o planalto e isto só seria
viável acompanhando o vale dos principais rios.
Segundo Waibel (1958, p. 211-13), o que interessava
ao governo brasileiro era estabelecer nas áreas
de floresta das províncias meridionais colonos
que fossem pequenos proprietários livres, "que
cultivassem as terras de mata com auxílio das
respectivas famílias e que não estivessem
interessadas nem no trabalho escravo, nem na criação
de gado". As primeiras colônias foram estabelecidas
em pontos estratégicos entre o planalto e o litoral
do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a fim de garantir
de alguma forma as vias de penetração.
Em Santa Catarina, principalmente, não havia
comunicação entre a capital Desterro e
o planalto e foi com esta finalidade que se deu estímulo
à colonização alemã no vale
do I tajaí.
A maior parte dos alemães que entraram no Brasil
durante o século XIX, portanto, se concentraram
em algumas áreas dos dois Estados sulinos. Nos
demais Estados as cifras não chegam a ser significativas,
a não ser para o Paraná (onde a imigração
chegou a ser importante só no século XX),
e, em menor escala, para o Espírito Santo. Os
alemães que foram para o Paraná, em grande
parte saíram das colônias do Rio Grande
do Sul e Santa Catarina em busca de melhores terras;
os contingentes imigratórios mais numerosos no
Paraná foram de eslavos. O Estado de São
Paulo atraiu imigrantes de origem alemã durante
a primeira metade do século XIX para trabalhar
na lavoura de café, mas uma série de circunstâncias
limitaram a entrada de colonos na segunda metade do
século. O governo da Prússia, pelo Rescrito
de Heydt em 1859, proibiu a propaganda a favor da emigração
para o Brasil e a atividade dos agentes de emigração,
proibição que atingiu toda a Alemanha
em 1871. O decreto foi revogado no final do século
(1896), mas só em relação aos três
Estados do sul do Brasil. A proibição
prussiana foi conseqüência dos problemas
enfrentados pelos imigrantes nas grandes fazendas paulistas,
por causa do regime de parceria. O interesse do Governo
Imperial também se limitou às primeiras
colônias fundadas no Rio Grande do Sul e Santa
Catarina — no caso, São Leopoldo, São
Pedro de Alcântara e Rio Negro. Com a mudança
da política em 1830 foi proibida qualquer despesa
do governo com colonização estrangeira
no Império e a responsabilidade dessa colonização
passou a ser dos governos provinciais a partir de 1834.
A iniciativa privada na área de colonização
só começou a partir de 1850.
As grandes levas de imigrantes alemães entraram
no Brasil entre 1850 e o final do século, o que
pode ser deduzido do grande número de colônias
fundadas nesse período. É difícil
fazer a estatística exata dos imigrantes dessa
origem que chegaram ao Brasil. As informações
mais precisas só existem a partir de 1884: de
acordo com estatísticas oficiais, entre 1884
e 1939 entraram no Brasil 170.645 alemães. Eduardo
Prado calcula que entre 1830 e 1884 o número
de imigrantes alemães chegou a ser de 71.247
e no período anterior (isto é, 1818 a
1830) foi de apenas 6.856 (Cf. Willems, 1946, p. 64-5).
Dos cinco milhões de imigrantes que saíram
da Alemanha entre 1824 e a Segunda Guerra Mundial, o
Brasil recebeu uma porcentagem mínima. De acordo
com Willems (op. cit., p. 66), somando os imigrantes
de língua alemã que chegaram nos cinqüenta
anos que vão de 1886 a 1936, teríamos
uns 280.000 indivíduos — apenas 7% do total
de imigrantes que o Brasil recebeu neste período.
Os dados estatísticos, como se pode ver pela
amostra acima, são muito contraditórios;
o número exato de imigrantes que entrou em cada
área de colonização, mais do que
o número global, é praticamente impossível
de ser estipulado pois as estatísticas regionais
são muito incompletas.
O que é extremamente importante no caso da imigração
alemã não é a quantidade de pessoas
que entraram nos vários períodos, mas
sim o fato de que os colonos dessa origem se concentraram
em determinadas áreas, longe do contato com elementos
luso-brasileiros. As colônias alemãs, em
geral, ficaram isoladas durante várias décadas
antes de serem introduzidos nelas imigrantes de outras
procedências, principalmente italianos —
o que sucedeu só depois de 1870. Formaram-se,
então, no sul do Brasil, núcleos coloniais
etnicamente homogêneos nos quais a introdução
posterior de imigrantes de outra origem não alterou
fundamentalmente o sistema de colonização.
No vale do Itajaí, onde a colonização
foi predominantemente alemã, os colonos italianos
receberam terras em alguns distritos ainda não
totalmente povoados com imigrantes alemães, como
Rodeio, Benedito Novo e Rio do Sul. Os colonos franceses
e italianos que entraram no Itajaí-Mirim foram
encaminhados, em sua maioria, para o vale do rio Tijucas"
[1] — Evidentemente outras colônias menos
importantes foram fundadas no vale do Itajaí.
A primeira tentativa de colonização estrangeira
na área foi em 1845, quando o belga Charles van
Lede fundou a Colônia Belga de Ilhota. no baixo
Itajaí-Açu, que fracassou alguns anos
depois, tendo seus colonos se dispersado. A Colônia
Blumenau, na medida em que passou a ser uma colônia
oficial, pôr outro lado, abrangeu uma área
muito grande, hoje desmembrada em muitos municípios.
Blumenau foi um centro de distribuição
de imigrantes alemães e italianos que receberam
terras nas regiões que hoje correspondem aos
municípios de Indaial, Rodeio, Timbó,
Gaspar e Benedito Novo, entre outros.
Texto extraído de: 'A colonização
alemã no Vale do Itajaí-Mirim', de Giralda
Seyferth, editora Movimento/SAB, 1974, p.29-33
Texto 2
A vinda dos alemães - Igreja
Luterana
"...As primeiras famílias alemãs
chegaram em Belo Horizonte antes da Primeira Guerra
Mundial. A razão da vinda foi a oportunidade
de trabalho em Belo Horizonte, que estava em construção.
Por volta de 1930, já havia na cidade uma pequena
comunidade austríaco-germânica. Muitas
famílias tinham fixado residência no bairro
Serra. Esse fato acabará por determinar o local
da construção da futura Igreja Luterana
de Belo Horizonte.
Pastores da Comunidade Luterana de Juiz de Fora percorriam
o interior do Estado, visitando as colônias alemãs
- João Pinheiro, David Campista, Álvaro
da Silveira e Raul Soares. Nessas ocasiões, o
pastor também realizava ofícios em Belo
Horizonte. A primeira visita de um pastor luterano às
famílias residentes em Belo Horizonte ocorreu
em 1912....."
Texto extraído do site da Comunidade
Evangélica de Confissão Luterana em Belo
Horizonte.
link:
http://www.luteranos.com.br/101/planejamento/2000.html
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