por
Tadeu Araújo
Era
uma vez... há muitos e muitos anos - mais de meio século
- no longínquo
Reino de Bom despacho, exatamente em maio de l.952, nasceu
uma menina. Todos
se encantaram com sua beleza morena, como todas as morenas
brasileiras. Seus
pais, Samuel e Isabel, batizaram-na como Alzira.
Sua
fada-madrinha veio conhecê-la e visitá-la. Abençoou-a
e predisse: - Essa
menina, por minha bênção especial, será
um dia princesa e depois, rainha. E seu
reinado será longo e pacífico. Repleto de graças
divinas.
E
assim aconteceu.
Antes
de completar um ano de idade, ela já fazia parte da
corte da Rainha Nossa
Senhora do Rosário. Vestiam-lhe roupinhas coloridas
e fidalgas. Nos braços da
mãe ou de outros adultos, passou a acompanhar os cortes
de dançadores do
Reinado... Para cumprir promessa de Dª Isabel. Alzira
cresceu e passou a seguir
– agora com suas próprias pernas – o cortejo
da santa pelas ruas da cidade, ano
a ano.
Certa
vez, quis saber da mãe que promessa era aquela que
adorava cumprir, sem
saber por quê.
-
Ah!, minha filha, foi um problema com a sua irmã Rute
- dezesseis anos mais
velha que Alzira - fiz para você cumprir... A graça
foi alcançada...
Mais
a menina não desejou saber, pois enchera-se de gosto
e devoção pela festa.
Aprendera a confiar em Na. Sra. do Rosário e a amá-la,
em seu coraçãozinho
puro, pelos exemplos e ensinamentos de sua mãe Isabel
e de seus padrinhos Neném
e Domingos Leite, com quem cantava na Igreja e em festas escolares.
Alzira
se fez adolescente, em seu encanto moreno como as morenas
de Copacabana
e de São Salvador. Cumpriu-se então a profecia
de sua fada-madrinha. Tornou-se
princesa do corte do Capitão Dunga, filho de outro
valoroso oficial da Guarda
da Virgem Maria: o Capitão Miguel Amador.
Jovem,
casou-se com Américo e teve um filho, Breno. Deixou
de ser princesa.
Tornou-se Rainha da Bandeira no corte onde era até
então princesa. E a
criança, que nascera menina, dentre e igual a tantas
outras, cumpriu seu
destino traçado no berço.
Nem
grávida, nem doente – se o estivesse –
desde bebê até os dias de hoje,
Alzira jamais deixou de acompanhar o Reinado de Na. Senhora
do Rosário, tamanho
seu compromisso e sua fé.
Dez...vinte
...trinta anos e seu capitão foi sentindo o peso dos
anos. Seus
pés ágeis e suas pernas fortes das danças
do Congado foram se desentusiasmando.
Às mãos, já lhe carecia energia para
repicar os comandos à frente de seus
dançadores. A cabeça sempre altiva, encimada
pelo chapéu, aos poucos pendia
sobre o peito e a farda reluzente de lantejoulas.
Em
l.997, o Capitão dos capitães do Reinado de
Bom Despacho atendeu ao chamado
de sua Rainha. Foi dançar para ela nos cortes de Reinado
lá do céu. Recebido
pelos anjos e por todos os congadeiros que haviam partido,
dirigiu-se até o
trono de sua Senhora a quem sempre servira aqui na terra.
Deu um toque tão
bonito e sonoro em sua caixa de comando que encantou São
Benedito e Santa
Ifigênia, seus santos protetores , que o haviam conduzido
até Nossa Senhora. Ao
seu chamado acudiram todos os reinadeiros, inclusive seu velho
pai Miguel
Amador, orgulhoso e feliz com o filho. Juntos, rezaram rezas
sem igual.
Cantaram cantigas belíssimas. A sanfona tocou. Cavaquinhos,
violões, pandeiros,
tambores e guizos encheram o céu de ritmos e de harmonia.
E todos dançaram para
a Senhora do Rosário, as mesmas danças com que
a homenageavam, sob o sereno,
sob a chuva ou sob o sol, na Igreja do Rosário, na
Matriz, dia e noite, no mês
de agosto, da Tabatinga ao Quenta-Sol .
A
santa reconheceu nele toda a fé e devoção
do seu povo do Bom Despacho.
Sorriu. Foi até ele e envolveu num maternal abraço
o seu fiel Capitão.
Um
ano antes de sua partida, Dunga reunira-se a seu corte irmão:
o Moçambique
de João Matias. Dançaram juntos para a Padroeira.
A um toque dos capitães, tudo
se aquietou. Dunga chamou Alzira, a rainha de sua bandeira.
Com voz frágil e
comovida, dirigiu-se a João Matias e a seus dançadores:
- Estou entregando,
hoje, a vocês a minha Rainha e a minha bandeira!
Nada
disse mais. Era o seu adeus. Naquele ano não saiu mais
com seu corte.
Homens e mulheres abaixaram o rosto, escondendo lágrimas.
As vozes se calaram
nas bocas e fizeram silêncio no fundo de cada garganta.
João Matias e todos os
presentes entenderam a grandeza e a dor daquele momento e
receberam a bandeira
e a rainha do corte de Dunga.
E,
nesse momento, a Alzira do Samuel, que fora menina e princesa
e depois
rainha, se sentiu triste pela despedida do Capitão
que tanto amava. E mal se
deu conta de que se tornara, agora , rainha de dois reinos,
as de um Reinado
só. reinado de Na. Sra. do Rosário. Um reinado
sublime, pacífico, duradouro.
Que ela promete durar, enquanto durar sua vida e suas forças.
Até que ela mesma
seja chamada a conduzir as bandeiras de Dunga e João
Matias nas congadas lá do
céu.
BOM
DESPACHO DE HOJE
As
administrações municipais de Bom Despacho vinham
convivendo desde sempre com
uma gritante deficiência: a fiscalização
sanitária, tributária e do
meio-ambiente. Nestas áreas predominava o amadorismo
e a improvisação. Com o
concurso realizado pela Prefeitura, dez fiscais, todos com
curso superior –
contadores, advogados, uma dentista e uma administradora de
empresa –
inaugura-se uma fase nova, propulsora de equidade e melhorias
para a população.
Dia
5 último, em seu gabinete, o prefeito Geraldo Simão,
com a presença de
todos o seus secretários, empossou os dez fiscais aprovados.
No dia seguinte,
eles já iniciaram suas atividades, distribuídos
pelas áreas específicas da
administração. Sejam bem-vindos.
Cumprimento
a todos, em especial a meus estimados ex-alunos e advogados:
Anderson Domingos Resende (Nininho), Andréia Luciana
Silva, Simone Gonçalves
dos Anjos e Daniela Moreira Resende .
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A
Alzira , personagem do meu conto (real) do reinado, deixou-me
claro que o
povo do reinado é uma grande família, unida
na fé e na devoção a Na. Sra. do
Rosário. Ela ressaltou as amizades e sua gratidão
ao Padre Vicente Araújo,
Padre Paulo, Rei Congo Ataíde Lacerda, Dunga e João
Matias (in memoriam), aos
capitães Vital, Antônio Carlos, Luís Alberto
e Monteiro. Ao corte do Moçambique
e à Congada do Engenho do Ribeiro que há quatro
anos a nomeou sua Rainha
Perpétua.
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