por
Pedro Rogério Moreira
*Jornalista
e escritor - pedrorog@senado.gov.br
Desconhecia quem fosse Gustav Lindenthal até encontrar
dezenas de citações dele na Internet. Engenheiro
civil, austríaco de nascimento (1850), emigrou para
os Estados Unidos em 1874. Deixou a marca de seu gênio
em muitos estados americanos, em pontes rodoviárias
e ferroviárias. Mas foi em Nova York, a partir de 1909,
que ele entraria definitivamente para a história universal
da arquitetura e da engenharia. Projetou e construiu duas
pontes magníficas, a Queensboro Bridge e a Hell Gate,
ambas sobre o rio Hudson. E revolucionou o modo de a engenharia
lidar com grandes estruturas metálicas para a construção
dessas obras de arte que cruzam rios e unem bordas de desfiladeiros.
Ele morreu em 1935, em Nova Jersey.
Tão importante foi este engenheiro austríaco,
que o prêmio internacional mais disputado por um construtor
de pontes, vale dizer, o Nobel da categoria, leva o nome dele.
É a Medalha Gustav Lindenthal, concedida anualmente
pela Sociedade de Engenheiros da Pensilvânia Ocidental,
para distinguir a ponte mais bonita do mundo, construída
no ano anterior, e homenagear aqueles que a edificaram. A
cerimônia de premiação é sempre
realizada em Pittsburgh, a chamada capital do aço americana,
onde foram criadas as primeiras grandes estruturas metálicas
do mundo, no século 19.
Este ano a festa de premiação será no
dia 9 de junho e desde já a arquitetura e a engenharia
brasileiras estão engalanadas. Pela primeira vez nos
vinte anos deste prêmio, o júri, integrado por
especialistas de diversas nacionalidades, puseram os olhos
numa ponte desta parte do planeta, a América do Sul.
E pela primeira vez avistaram o Brasil. Jamais tinham nos
visto. Pois então, o premiado deste ano é o
Brasil. Mais precisamente, Brasília. A Ponte JK, sobre
o lago Paranoá, foi eleita “a ponte mais bonita
do mundo no ano de 2002”, ano de sua inauguração.
É a mais nova obra de arte de uma cidade cheia de obras-primas
da arquitetura. Unindo aço e ferro de suas pistas ao
concreto de suas bases e de seus três arcos intercalados,
sustentados por estais, a Ponte JK é o símbolo
de Brasília neste milênio. Uma beleza idealizada
pelo arquiteto carioca Alexandre Chan, 61 anos. Ele receberá
a Medalha Gustav Lindenthal, como o artista insuperável
da ponte mais bonita do mundo. Insuperável, com razão,
pois Chan foi o primeiro colocado no concurso realizado pelo
Governo do Distrito Federal para escolher o melhor projeto.
Um outro brasileiro, cuja ação foi decisiva
na criação da ponte, também será
homenageado. Vão lhe entregar uma placa alusiva ao
importante evento de Pittsburgh. Além de constituir
um reconhecimento à excelência da engenharia
brasileira, haverá nesta homenagem uma presença
de Minas na Pensilvânia. Presença que fala muito
ao meu coração e vai falar também aos
corações de uma legião de mineiros. O
homenageado será o engenheiro civil José Celso
Valadares Gontijo, o construtor da ponte. Ele arrostou muitos
riscos para executar a obra, riscos financeiros, profissionais
e políticos. Ultrapassou a todos. É um vencedor.
Ele já construiu centenas de edifícios, muitos
quilômetros de estradas rodoviárias, barragens
e parte do metrô de Belo Horizonte. E continua a construir,
em vários estados. Mas, pela Ponte JK, ele tem um afeto
especial.
José Celso foi menino comigo. Todo menino gosta de
construir bonitas pontes de gravetos nos ribeirões
da infância. Para fazer a ponte mais bonita do mundo,
numa das paisagens mais bonitas do Brasil, José Celso
Gontijo devia estar pensando na sua infância feliz em
Bom Despacho. Pois a Ponte JK está dando mais alegria
à vida em Brasília. Esta obra, agora consagrada
internacionalmente, alcançou o patamar das coisas definitivas.
Assim como as velhas pontes de Gustav Lindenthal dão
aquele eterno ar romântico a Nova York, a ousada ponte
de José Celso, batizada com o nome do fundador da Capital,
perpetuará a contemporaneidade de Brasília.
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