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O TORMENTO DE SÍSIFO
I -A CAMINHO DE BAGDÁ

por Vicente de Paulo Teixeira Leite

Para o antropólogo húngaro Mircéia Ediade, o mito não é simplesmente uma ficção. O mito é duplamente histórico. É histórico porque testemunha que determinado povo, ou cultura acreditava no referido mito. E é histórico porque, sem ele, se explicava a vida e a história.

O caso de Sísifo pertence à mitologia grega, que desafiou os deuses. Zeus, o deus supremo o condenou. Ele teria que rolar uma pedra, também gigantesca, montanha acima. Quando chegava ao cimo da montanha, após um esforço enorme, ele fraquejava, soltava a pedra que rolava abaixo e ele tinha que recomeçar o trabalho.
Retrato da vida e da história.
Guerra! Sempre as houve. Os conflitos parecem aderentes à natureza do animal racional, às vezes, não tão racional.

Lá no comecinho, dois irmãos: Caim matou Abel. Depois, crescendo a complexidade dos relacionamentos humanos, da ferocidade, dos interesses grupais, da prepotência, das técnicas de enriquecerem a crueldade humana, surgiram as guerras. No Antigo Testamento não é raro a expressão: “Passou a cidade e passou toda a sua população no fio da espada”. E assim, todos os povos. A história humana deixa e rastro de irracionalidade, de estupidez, de sangue e de horror.

No entanto não é essa a essência do ser humano. Muito mais profundo que a compulsão para “Thomatos” - a morte, está a atração para a vida, a ordem, a paz. “O sangue de teu irmão Abel, que a Terra bebeu, clama para mim”, disse o Senhor a Caim, A partir daí, todo o esforço da humanidade para construir um mundo de mais amor, solidariedade, de fraternidade solução de conflitos, ele fez. E o grande ideal do ser humano passou a ser construir um mundo, cada vez mais humano e fraterno, em que valha a pena viver como homens,. Mas, sempre houve na História, as quedas, as voltas á instabilidade, á estupidez.

È preciso recomeçar. È destino de Sísifo.
Toda a organização social, as leis tradicionais, as leis escritas viraram e visavam a solução dos conflitos: a paz é o fruto da justiça! Por volta de 2000 anos antes de Cristo promulgou-se a primeira lei escrita: o Código de Humarabi, na Mesopotãmia, hoje o Iraque. Depois, no Sinai, a Torah, a lei de Moisés, cujo o núcleo básico é o Amor. “ Amar a Deus com todas as forças e ao próximo como a si mesmo”. Pasmem: o Amor, que se embasa na liberdade, no dou de sí, tornou-se objeto da lei, de obrigação! Vieram ainda os esforços de outras civilizações, especialmente a grega e a romana.

A Grécia nos trouxe a “Pólis”- a cidade-e o conceito de cidadão, bem como o esplendor da filosofia humanística. Vem Roma com o direito Romano, a busca da ordem, o ritualismo processual. Fora a imensidão de produção de atividades intelectuais, artísticas e culturais das duas grandes civilizações. Parabéns, Sísifo! Mais um empurrãozinho e a pedra estará no cimo da montanha!

Ledo engano! Do norte – sempre do norte – hordas de povos primitivos, bárbaros, cruéis, aos pouco, ou em avassaladoras, caíram sobre o Império Romano. Duas tribos se tornaram o símbolo da destruição á dos “mísseis inteligentes” e “bombas-mães”: os hunos, cujo chefe, Àtila, foi chamado de “flagelo de Deus” e os Vândalos, que nos forneceram a palavra vandalismo que significa a tendência para destruir pelo simples prazer de o fazer.

A civilização greco-romana se esboroou. Tantos séculos de construção e, de repente, nada mais. As pessoas perderam seus pontos de referência, desorientados, suicidaram-se, pois a vida não tinha mais sentido, outro jovens, procuravam refúgios na solidão dos desertos –os eramitas- ou, da claustros dos monges. Surge uma nova figura: Santo Agostinho de Hipona, com seu livro “As Duas Cidades”, reflete sobre o momento de então, criando a Filosofia da História e restaurando os ânimos, a fé e a esperança. “ Dois amores criaram duas cidades: o amor dos homens criou a cidade dos homens, o amor de Deus criou a cidade de Deus”.

È o novo vento já sopra, da Galiléia, uma onda de amor, solidariedade, fraternidade combinados com a construção de uma nova civilização conduzindo-o ao surgimento das universidades, aos estados racionais, aos grandes descobrimentos,ás artes e ciências. Foi um renascer, o Renascimento. Grandes figuras, entre elas a do holandês Hugo Groutius, que refletiu sobre a criação dos Estados , criando o Direito Internacional sublinhando a sacros santidade dos tratados, dos embaixadores etc.

O final do séc.XIX, foi marcado por um fator. A revolução norte-americana e a Revolução francesa. E na esteira da Revolução Francesa, Napoleão Bonaparte bagunçou o mapa da Europa.
Derrotado, Napoleão, em 1815, os vencedores se reuniram em Viena, Áustria, para reocupar a Europa. E por inspiração da Rússia criança a Santa Aliança com a meta de evitar e qualquer movimento de revolução liberal no mundo mediante, inclusive, intenção armada. Formavam a Santa Aliança, Áustria, a Rússia, a Prússia, a Inglaterra e Portugal ( o Brasil aparece aí, pela primeira vez, na política internacional, depois ... foi vítima da Santa Aliança). A Santa Aliança, mergulhada em suas contradições, foi se esgarçando e desapareceu da história.

O século XX, apesar do esplendor da Revolução Industrial e, por isso mesmo, foi uma marcha fúnebre em direção ao Armagedon.
Vamos, de novo, Sísifo.

È preciso levar a pedra até lá em cima! Na próxima edição.


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Fotos e Comentários

Prof. Vicente de Paulo Teixeira Leite
Advogado e Professor Emérito da Escola
Estadual “Miguel Gontijo”
Bom Despacho

 

 

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