Uma
importante Feira do Livro no interior de Minas
Gerais
JACINTO GUERRA *
“E agora, José?
A festa acabou. O povo sumiu...”
Carlos Drummond de Andrade
Os grandes homenageados da 6ª. Feira
do Livro de Bom Despacho e Cidades Vizinhas
foram os escritores Guimarães Rosa
e Mário Quintana, mas depois que a
festa terminou, lá na Praça
da Matriz, uma certa tristeza, mesclada de
saudade e de alegria nos leva ao poema famoso
de Carlos Drummond de Andrade.
Desde 1991, esta pequena capital da microrregião
do Alto São Francisco, em Minas Gerais,
promove a sua Feira do Livro, com algumas
interrupções, é verdade,
mas firmando-se, cada vez mais, como um evento
importante, sobretudo para o nosso futuro.
Uma bela solenidade de abertura, sob os acordes
da Banda de Música do 7º Batalhão
da Polícia Militar, com apresentações
de arte e poesia, assinalou o início
dos trabalhos de uma bela festa da literatura
e dos livros.
Promovida pelo SESC-MG, em sua maior parte,
nos amplos e modernos espaços do Laces/Liceu
de Arte, Cultura, Esporte e Saúde –
com apoio da Unipac-Universidade Presidente
Antônio Carlos e de outras instituições
empresas e bondespachenses –, esta realização
não seria possível sem a participação
e o entusiasmo de uma legião de professores,
escritores, livreiros, jornalistas e leitores
de Bom Despacho, Belo Horizonte, Brasília
e cidades vizinhas.
Fica difícil citar os nomes de todos
os cidadãos que se empenharam nos trabalhos
da Feira, mas é preciso destacar os
representantes da Rede Escolar de Bom Despacho,
especialmente as professoras Juraci e Kátia;
o pessoal do Sesc-MG, liderados por Jane Pascoal
e Elisabete Ricardo, os professores e estudantes
de nossas escolas de todos os níveis
e a equipe da AMC- Associação
Museu da Cidade, na pessoa de seu presidente,
o empresário Julio Benigno Fernández.
A 6ª Feira do Livro de Bom Despacho,
realizada no período de 28 a 30 de
setembro, ocupou espaços na mídia
de Belo Horizonte, Brasília, Goiânia,
Bom Despacho e Itaúna, destacando-se
o artigo “O grande exemplo de Bom Despacho”,
do professor e escritor Edmílson Caminha,
e a crônica “Viagem com Guimarães
Rosa a Bom Despacho”, do jornalista
e poeta Salomão Sousa. A nossa programação
foi bem rica, envolvendo palestras, recitais
de poesia, performance de contadores de histórias,
oficina literária, sessões de
autógrafos, lançamentos de livros
e outras manifestações de arte
e cultura dirigidas a crianças, jovens,
adultos e , de maneira especial, aos cidadãos
de terceira idade.
Uma feira é sempre um espaço
de compra e venda, mas principalmente um lugar
de festa e alegria. O livro é um produto
cultural como qualquer outro. Custa dinheiro,
precisa ser vendido e, naturalmente, comprado
pelas pessoas que gostam de ler. Pelas outras,
também, para oferecer de presente a
um amigo, a um parente e, sobretudo, aos jovens
estudantes que se preparam para conquistar
o futuro.
Outro objetivo importante de uma Feira do
Livro é levar os escritores e os livros
para um contato direto com o povo, aproximando
autores e leitores para uma conversa agradável
e proveitosa. Em síntese, incentivar
e desenvolver o hábito da leitura.
As editoras, livrarias e bibliotecas são
presenças indispensáveis numa
Feira do Livro, não só para
vender, mas também para mostrar os
livros mais interessantes, a fim de que o
leitor possa, com liberdade, folhear suas
páginas, fazer a leitura de algumas
informações importantes –
e, principalmente, conhecer, mais de perto,
sua Excelência, o Livro, a mais notável
das conquistas da civilização.
Em 1991, na histórica 1ª Feira
do Livro de Bom Despacho, realizada no Salão
do Lions Clube, na Praça Irmã
Albuquerque, o empresário Victor Alegria,
diretor-presidente da Thesaurus Editora, manifestou
seu entusiasmo pela expressiva participação
das escolas, com seus professores e estudantes,
mas explicou que “a Feira do Livro deve
ser, principalmente, um evento do povo, com
a presença dos donos do posto de gasolina,
do armazém da esquina, da padaria,
do fazendeiro e da dona-de-casa, porque, de
alguma forma ou de outra, todos precisam do
livro”.
A nossa 6ª Feira do Livro teve um caráter
regional, porque ultrapassou as fronteiras
dos rios Lambari e do São Francisco,
com a participação de Alaor
Barbosa, festejado escritor goiano-brasiliense,
pronunciando excelente conferência sobre
“O regionalismo brasileiro – a
obra de Guimarães Rosa”; do poeta
Ozório Couto, natural da cidade de
Luz, que falou sobre Emílio Moura e
Carlos Drummond de Andrade, notáveis
poetas da Língua Portuguesa; da psicanalista
e escritora Cláudia Coutinho Bernardes,
premiada pela Academia Mineira de Letras e
moradora de Lagoa Santa, falando sobre “Literatura
e criatividade”, além do professor
Adércio Simões Franco, de Divinópolis,
mestre em Literatura pela Universidade Católica
do Paraná, que deu uma bela aula de
música para o público de Bom
Despacho.
De Arinos, noroeste de Minas, onde tem uma
propriedade rural, veio um conhecedor das
veredas e sertões do Guimarães
Rosa: o escritor Napoleão Valadares
– Prêmio Petrobrás de Literatura,
com o seu romance Urucuia e presidente da
ANE – Associação Nacional
de Escritores, sediada em Brasília.
Como representante da Thesaurus, veio o jornalista
e escritor Marco Paulo Haikel, agitador cultural
do Maranhão, hoje assessor de imprensa
em Brasília.
Entre as delegações das cidades
vizinhas, merecem destaque especial os professores
e estudantes de Moema, que prestigiaram diversos
eventos da Feira e a simpática visita
de membros da Academia de Letras de Lagoa
da Prata, com a divulgação de
seus livros, especialmente, o ensaio biográfico
Otacílio Miranda – Um político
diferente, de Antônio Sampaio e Heleno
Nunes, além da antologia Lagoa da Prata
em prosa e verso, com textos do saudoso historiador
Silvério Rocha e outros bons escritores
lagopratenses.
Entre os escritores de Bom Despacho, os historiadores
Orlando Ferreira de Freitas, autor do livro
Raízes de Bom Despacho, e Tadeu de
Araújo Teixeira, professor e jornalista,
enriqueceram o evento com sua parti- cipação
na mesa-redonda “Bom Despacho, seu povo
e sua história”; o jornalista
e professor Itamar de Oliveira autografou
seu novo livro de poemas “Fogo amigo”,
editado em Belo Horizonte. Entre outros, marcaram
sua presença o médico e poeta
Dr. Celso Ribeiro, as professoras Lídia
Alves de Moura e Maria de Lourdes Cardoso,
escritoras de Bom Despacho, e Maria do Carmo
Castro Guetti, professora da área de
Letras e funcionária do Ministério
da Educação, em Brasília.
Outro destaque especial entre os escritores
bondespachenses foi Wulcino Teixeira de Carvalho,
com o seu Bravuras e bravatas de um caipira,
interessante livro que tem como cenário
a Bom Despacho antiga e algumas de suas figuras
mais notáveis. O professor João
Batista da Silva esteve na Feira, anunciando
a segunda edição de seu biografia
do legendário Padre Libério,
muito venerado pelo nosso povo.
Como escritor, tive a oportunidade, neste
evento de Bom Despacho, de promover uma oficina
literária sobre o meu livro O gato
de Curitiba – crônicas de viagem;
conversei com muitos leitores sobre o Gente
de Bom Despacho – histórias de
quem bebe água da Biquinha, que terá
continuação em novo livro de
biografias – e fiz o lançamento,
em 2ª edição, do JK –
Triunfo e Exílio – Um estadista
brasileiro em Portugal, que está à
venda nas principais livrarias do País.
Por sua vez, Nilce Coutinho Guerra veio de
Brasília, para suas atividades técnicas
e artísticas em Bom Despacho, no Museu
da Cidade, e promoveu a divulgação
de seus livros Palavra de Saci e Vamos brincar,
criança, que integram sua coleção
Baú de Brincadeiras, editado pela Thesaurus,
com apoio da Secretaria de Cultura do Distrito
Federal.
Mas, nem tudo são flores num evento
de grande porte como foi a Feira do Livro
de Bom Despacho e Cidades Vizinhas. Naturalmente,
ocorreram falhas e dificuldades, que não
foram poucas e serão devidamente.
Concluindo, entendemos que a Feira do Livro
de Bom Despacho, realizada com êxito
em 1991, 97, 98, 99, 2005 e 2006, tornou-se
um orgulho da cidade da Senhora do Sol e precisa
consolidar-se de maneira mais profissional,
como um grande evento das áreas de
cultura, educação e turismo.
Para isto, precisamos de apoio da Prefeitura
e de empresas, instituições
e cidadãos interessados e empenhados
em fazer do livro da leitura instrumentos
e estratégias para o desenvolvimento
e a qualidade de vida do nosso povo.
Desta forma, desejamos abrir o debate sobre
a questão. Uma proposta, que venho
conversando com nossos amigos interessados
no assunto, é a criação
de uma ONG para realizar os trabalhos de planejamento,
captação de recursos e organização
da Feira do Livro. Para isto, precisamos organizar
idéias e reunir experiências,
não só das lideranças
de nosso Município, mas, também,
de outros bondespachenses e amigos da cidade,
que moram em Brasília, Belo Horizonte,
Divinópolis e outros lugares mundo
afora.
Os chineses já diziam, há milênios,
que a marcha de mil quilômetros começa
com o primeiro passo. Ao longo dos últimos
quinze anos, nossa caminhada já vai
longe, mas é preciso atravessar a montanha
para ver, com maior clareza, as estradas do
futuro, por ainda seguiremos.
– E agora, José?
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* Jacinto Guerra, morador de Brasília,
foi secretário de Cultura e Turismo
de Bom Despacho, assessor da Secretaria de
Cultura do Distrito Federal e coordenador-geral
das Feiras do Livro realizadas em Bom Despacho,
sua terra natal.
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